Edifício Joelma & O Mistério das Treze Almas
Concluída sua construção em 1972, o edifício foi imediatamente alugado ao Banco Crefisul de Investimentos. No começo de 1974 a empresa ainda terminava a transferência de seus departamentos quando, no dia 1 de fevereiro, às 08:54 da manhã de uma sexta-feira, um curto-circuito em um aparelho de ar condicionado no 12° andar deu início a um incêndio que rapidamente se espalhou pelos demais pavimentos. As salas e escritórios no Joelma eram configurados por divisórias, com móveis de madeira, pisos acarpetados, cortinas de tecido e forros internos de fibra sintética, condição que muito contribuiu para o alastramento incontrolável das chamas.
O Joelma contava com uma única escada central para servir às duas torres de escritórios. Não havia escadas de emergência nem brigadas de incêndio ou plano de evacuação. No início do incêndio, muitos conseguiram fugir pelos elevadores, até que estes pararam de funcionar e também provocaram várias mortes, incluindo um grupo de treze pessoas encontradas em um dos elevadores, que nunca puderam ser identificadas, e ficaram conhecidos como as "Treze Almas do Edifício Joelma". A escada foi rapidamente tomada pela densa fumaça causada pelo incêndio, impedindo a fuga dos ocupantes que, ao invés de descer, começaram a subir, na esperança de serem resgatados no topo do prédio.
Sem ter como deixar o prédio, muitos tentaram abrigar-se em banheiros e nos parapeitos das janelas. Outros sobreviventes concentraram-se no 25° andar, que tinha saída para os terraços das Torres Norte e Sul. O Corpo de Bombeiros recebeu a primeira chamada às 09:03 da manhã. Dois minutos depois, viaturas partiram de quartéis próximos, mas devido a condições adversas no trânsito só chegaram no local às 09:10. Helicópteros foram acionados para auxiliar no salvamento, mas não conseguiram pousar no teto do edifício pois este não era provido de heliporto; telhas de amianto, escadas, madeiras e a fumaça do incêndio também impediram o pouso das aeronaves.
Os bombeiros, muitos deles desprovidos de equipamentos básicos de segurança, como máscaras de oxigênio, decidiram entrar no prédio para o resgate, tentando alcançar aqueles que haviam conseguido chegar ao topo do edifício. Foram apenas parcialmente bem sucedidos; a fumaça e as chamas já haviam vitimado dezenas de pessoas. Alguns sobreviventes, movidos pelo desespero, começaram a se atirar do edifício. Mais de 20 saltaram; nenhum sobreviveu. Apenas uma hora e meia após o início do fogo é que o primeiro bombeiro conseguiu, com a ajuda de um helicóptero do Para-Sar (o único potente o suficiente para se manter pairando no ar enquanto era feito o resgate), chegar ao telhado. Já então muitos haviam perecido devido à alta temperatura no topo do prédio, que chegou a alcançar 100 graus celsius. A maioria dos sobreviventes ali conseguiu se salvar por se abrigarem sob uma telha de amianto. Apenas no telhado da Torre Norte foram resgatados sobreviventes. No telhado da Torre Sul, não houve sobreviventes.
Por volta de 10:30 da manhã o fogo já havia consumido praticamente todo o material inflamável no prédio. O incêndio foi finalmente debelado, com a ajuda de 12 autobombas, 3 autoescadas, 2 plataformas elevatórias e o apoio de dezenas de veículos de resgate. Às 13:30, todos os sobreviventes haviam sido resgatados. Dos aproximadamente 756 ocupantes do edifício, 191 morreram e mais de 300 ficaram feridos. A grande maioria das vítimas era formada por funcionários do Banco Crefisul de Investimentos.
A tragédia do Joelma, que se deu apenas dois anos após o incêndio no Edifício Andraus, reabriu a discussão popular com relação aos sistemas de prevenção e combate a incêndio nas metrópoles brasileiras, cujas deficiências foram evidenciadas nos dois grandes incêndios. Na ocasião, o Código de Obras do Município de São Paulo em vigor era o de 1934, um tempo em que a cidade tinha 700 000 habitantes, prédios de poucos andares e não havia a quantidade de aparelhos elétricos dos anos 1970.
A investigação sobre as causas da tragédia, concluída e encaminhada à justiça em julho de 1974, apontava a Crefisul e a Termoclima, empresa responsável pela manutenção elétrica, como principais responsáveis pelo incêndio. Afirmava que o sistema elétrico do Joelma era precário e estava sobrecarregado. O resultado do julgamento foi divulgado em 30 de abril de 1975: Kiril Petrov, gerente-administrativo da Crefisul, foi condenado a três anos de prisão. Walfrid Georg, proprietário da Termoclima, seu funcionário, o eletricista Gilberto Araújo Nepomuceno e os eletricistas da Crefisul, Sebastião da Silva Filho e Alvino Fernandes Martins, receberam condenações de dois anos.
Após o incêndio, o prédio ficou interditado para obras por quatro anos. Reinaugurado em setembro de 1978, foi dado amplo destaque para os novos padrões de segurança do prédio, que chamado de "Novo Joelma" nas propagandas veiculadas pela Itaoca, empresa responsável pela locação das salas comerciais. Porém, o prédio nunca teve ocupação completa desde a reabertura. Em meados dos anos 2000, o prédio foi rebatizado como "Edifício Praça da Bandeira".
O Mistério das Treze Almas
A tragédia acabou ajudando a espalhar entre a população rumores de que o terreno no qual o prédio foi erguido seria amaldiçoado, com especulações de que até o fim do século XIX teria sido um pelourinho. Fantasmas rondariam o local. Durante o incêndio, treze pessoas tentaram escapar por um elevador, mas não foram bem sucedidas. Seus corpos, não identificados, foram enterrados lado a lado no Cemitério São Pedro, na Vila Alpina. O fato acabaria sendo inspiração para o chamado Mistério das Treze Almas, às quais são atribuídos diversos milagres. Funcionários que já trabalharam no edifício revelam já terem presenciado aparições de espíritos, ouvido gritos e vozes, além de terem visto fenômenos estranhos como faróis de carros vazios acenderem e apagarem. A fama de que o local seria mal-assombrado aumentou ainda mais após a divulgação de que o terreno teria sido palco de assassinatos, no acontecimento trágico o qual ficou conhecido como Crime do Poço.
O Crime do poço
Em 1948, o professor de química orgânica da USP, Paulo Ferreira de Camargo, 26 anos, morava junto com a mãe Benedita e as irmãs Cordélia e Maria Antonieta em uma casa no centro da cidade de São Paulo. Ele, a 4 de novembro, assassinou a tiros a mãe e as duas irmãs e enterrou os corpos em um poço que mandara construir dias antes no quintal da casa em que moravam. O estranho desaparecimento das três mulheres o levou a ser o principal suspeito do triplo crime. No momento em que a polícia começou a escavar o poço, Paulo pediu para ir ao banheiro. Ele então se suicidou com um tiro no coração, a 23 de novembro. Na ocasião, surgiram duas versões para o crime. A primeira era de que a família do professor se opunha ao seu relacionamento com a namorada. A outra era a de que teria matado a mãe e as irmãs porque estavam gravemente doentes e ele não teria como prover os cuidados necessários para o tratamento. Um dos bombeiros que participou do resgate dos corpos morreu de infecção cadavérica ao manusear os cadáveres sem a proteção de luvas. O crime abalou a população de São Paulo e ficou conhecido como O Crime do Poço. O lugar ganhou então a fama de mal-assombrado. Por isso, a numeração da rua foi modificada quando vinte e seis anos mais tarde, no lugar da casa, foi construído o edifício Joelma, ora rebatizado edifício Praça da Bandeira.
Alguns Acontecimentos Relevantes
CASO DAS 13 ALMAS
Luiz Nunes, o Luizão, é jardineiro e zelador de um cemitério da zona leste de São Paulo e no local estão enterradas 13 pessoas que morreram queimadas no incêndio do Edifício Joelma. As 13 pessoas tentam escapar pelo elevador do edifício, mas não conseguiram se salvar. Os corpos não foram identificados e foram enterrados um ao lado do outro. Os treze corpos deram origem ao mistério das treze almas e a elas são atribuídos milagres. Luizão recebeu uma graça das 13 almas após sofrer um enfarte e ter sido desenganado pelos médicos. Os fiéis quando vão ao cemitério costumam jogar água com um regador na campa das 13 almas. Segundo eles, como as vítimas morreram queimadas, necessitam de água.
VOLQUIMAR CARVALHO DOS SANTOS
A professora Volquimar Carvalho dos Santos, 21 anos, trabalhava no setor de processamento de dados de um banco que funcionava no 23º andar do Edifico Joelma. Ela era funcionária da empresa havia um ano e meio. O irmão dela, Álvaro, trabalhava no 10º andar do mesmo prédio. A família de Volquimar é espírita. Ao ser dado o aviso de incêndio, Volquimar e outras quatro companheiras tentaram fugir pela escada, mas quase foram atropeladas pelos funcionários desesperados que tentavam se salvar. Elas correram para a cobertura do prédio, mas acabaram morrendo por asfixia. Álvaro, irmão de Volquimar, sobreviveu ao incêndio. Álvaro localizou o corpo da irmã no IML horas depois do incêndio ter terminado. Meses depois, Volquimar enviou uma mensagem psicografada para a mãe através do médium Chico Xavier. Na mensagem ela contava como tinha sido os seus últimos minutos de vida. Em 1979, a história de Volquimar se transformou no filme “Joelma, 23º andar”. O roteiro é baseado nas cartas psicografadas por Chico Xavier que estão no livro “Somos Seis”.
MÃE DE VOLKIMAR
Walkyria morava com o marido e três filhos em um conjunto habitacional na zona norte de São Paulo. Dois filhos de Walkyria, Álvaro e Volquimar, trabalhavam no Edifício Joelma e estavam de serviço no dia do incêndio. Álvaro conseguiu sobreviver à tragédia, mas Volquimar ficou desaparecida. Walkyria, Álvaro e um amigo percorreram diversos hospitais em busca de notícias sobre a jovem. Mas tudo foi em vão. No final da tarde, eles foram ao Instituto Médico Legal. Walkyria ficou esperando no carro, enquanto o filho e o amigo tentavam localizar o corpo entre os mortos do incêndio. Álvaro reconheceu de Volquimar, mas resolveu falar para a mãe que não tinha encontrado o corpo da irmã. Neste momento, Volquimar apareceu para a mãe e disse que o irmão estava mentindo. Volquimar mostrou para a mãe o próprio corpo deitado em uma mesa no IML. Dois meses depois do incêndio, Walkyria e Álvaro procuraram o médium Chico Xavier para saber notícias da jovem. Chico disse que o espírito de Volquimar estava dizendo a ele que havia deixado em casa algo que permitiria a comunicação mediúnica entre mãe e filha. Era uma Tábua de Ouija, feita de cartolina. Nesta cartolina estavam as letras do alfabeto e as palavras “sim”, “não” e “talvez”. A partir daí, Walkyria passou a manter conversações com a filha morta através da cartolina. Em julho de 1974, Volquimar orientou a mãe que voltasse a procurar Chico Xavier e que desta vez iria lhe mandar uma mensagem psicografada. O médium psicografou duas mensagens que mais tarde serviram de roteiro para o filme “Joelma, 23º andar”.
MONJA BUDISTA
A monja budista Jogetsu esteve em 2004 no Edifício Joelma para abençoar o 19º e 20º andares. No local ficou instalada uma equipe do prefeito José Serra. Jogetsu, que significa Lua Límpida, encontrou o edifício muito carregado, principalmente nos banheiros. Ela viu o espírito de uma mulher loira que lhe agradeceu pelas preces. A monja homenageou as pessoas que tinham trabalhado no prédio no passado e pediu autorização que novas pessoas pudessem trabalhar no edifício. Jogetsu deixou um amuleto no prédio